Um dia vieram dois em uma bicicleta. Eu estava chegando em casa, era horário de almoço.Eles colocaram uma arma na minha cabeça e levaram tudo o que eu tinha.Estavam bem vestidos, não pareciam pessoas de má índole. Sinceramente, até pareciam doutores, gente confiável.
Naquele dia, eu fui dormir atordoado, pensando no mundo em que estamos vivendo, cada dia, penso o quanto fica difícil sair pela rua sem medo.
Mãe lembra-se do Júnior? Ele entrou nessa também. Quando nós viemos pra cá, queríamos ser gente grande, os bacanas. Ele até que conseguiu, mas não pude acreditar quando ele veio me oferecer um cigarro com uma tal de maconha dentro; ele disse que era boazona, mas eu não quis provar. Ouvir dizer que essa tal ervinha aê acaba com a pessoa, vira vício, e depois de um tempo, você fica sem saída.
Esta noite, fui dormir tentando sonhar como aqueles tempos de paz, mas acho que já não tenho tanta esperança no bicho homem, o único animal que mata sua própria espécie. Acordei hoje ouvindo tiros. Tenho medo mãe, tenho medo de morrer, ninguém voltou do outro lado pra me dizer como é depois que a vida acaba. Deve ser hipótese, igual meu patrão fala. Ah mãe... Só Deus mesmo pra dar vida na esperança de mudança, da salvação do mundo. Mãe, a senhora está aí?
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